
Se por aqui encontrar profissionais já era complicado, com a expansão da celulose no Brasil, Mato Grosso do Sul tem um desafio ainda maior no caminho de consolidar a instalação de megafábricas de papel e celulose. A estimativa é que só os novos projetos da Arauco, CMPC e Bracell vão abrir 38 mil postos de trabalho no pico da construção e 13 mil vagas fixas durante a operação até 2028.
Fora do chamado “Vale da Celulose” sul-mato-grossense, o movimento também é intenso. No Rio Grande do Sul, a chilena CMPC ergue uma fábrica de R$ 27 bilhões em Barra do Ribeiro, que deve gerar 12 mil empregos durante a construção e manter cerca de 5 mil postos fixos depois de inaugurada.
Mato Grosso do Sul já tem esbarrado em um problema antigo no Estado: a falta de mão de obra qualificada. Segundo estimativa da Fiems (Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul), o setor tem 25 mil vagas abertas.
Grandes empresas como Suzano, Arauco, Bracell e Eldorado têm apostado bilhões no chamado “Vale da Celulose”, atraídas pela localização estratégica. Atualmente, Mato Grosso do Sul tem duas linhas de produção da Suzano em Três Lagoas, onde também existe uma unidade da Eldorado Brasil. Ribas do Rio Pardo tem outra fábrica da Suzano.
Além disso, a Arauco e a Bracell já planejam instalar novas unidades em Inocência e Bataguassu, respectivamente. Juntas, necessitam de 26 mil funcionários no pico da obra.
Em junho, a Fiems, o governador Eduardo Riedel e deputados estaduais de Mato Grosso do Sul se reuniram para tratar sobre a mão de obra. Na ocasião, foi apresentado o programa Inclusão Produtiva – Ascende Brasil, que objetiva suprir esse problema.
O diretor-executivo da Reflore-MS (Associação Sul-mato-grossense de Produtores e Consumidores de Florestas Plantadas), Dito Mario, afirma que o problema existe e é necessário unir esforços para tentar mudar a situação.
“A falta de mão de obra qualificada existe e, para solucioná-la, é necessário um esforço coletivo, não apenas das empresas, mas também do governo. Já sabemos que existem diversas iniciativas para qualificar trabalhadores, algumas promovidas pelo Sistema S, outras pelo governo e também pelas próprias empresas”, pontuou.
Ainda de acordo com ele, a demanda é a longo prazo. “Somente com a união dessas forças essa carência poderá ser suprida. Trata-se de uma demanda de longo prazo, já que o setor envolve diversas operações”, completou.
O presidente da Fiems, Sérgio Longen, defende que seja possível conciliar o pagamento de benefícios sociais com salários, durante um período, para que pessoas ingressem no mercado formal. Segundo ele, a medida seria uma alternativa para facilitar a contratação de mão de obra pelo setor.
Necessidade – A Arauco, que tem o Projeto Sucuriú, vai precisar de 14 mil funcionários no pico da obra e quando for concluída, pretende empregar 6 mil trabalhadores entre florestal, operacional e do setor de logística.
Esse é o maior investimento da empresa. O projeto é estimado em R$ 28,3 bilhões, com R$ 15 bilhões aplicados até meados de 2028 para a instalação de uma primeira planta, com capacidade de produzir 3,5 milhões de toneladas ao ano.
A necessidade de funcionários é maior do que a população de Inocência, que, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), foi estimada em 8,4 mil pessoas em 2022. Após a ativação da fábrica, a projeção é de que a população aumente para entre 12 mil e 14 mil pessoas.
Com uma demanda tão grande por trabalhadores, a empresa buscou apoio do Senai para qualificar pessoal para a indústria e se associou à Famasul e Senar para preparar quem trabalha com o cultivo do eucalipto.
A fábrica irá criar alojamento para os trabalhadores da obra fora do perímetro urbano, com estrutura própria de serviços de saúde, para evitar impacto muito grande no município.
No caso da Bracell, está prevista a geração de até 12 mil empregos diretos e indiretos no pico da obra. Após o início da operação, a estimativa é de 2 mil postos de trabalho, entre colaboradores próprios e terceirizados. O investimento será de R$ 16 bilhões. De acordo com o IBGE, em 2022, a população em Bataguassu era de 23 mil pessoas.
“Para suprir a demanda por mão de obra qualificada, a empresa mantém investimentos constantes em capacitação, em parceria com instituições do Sistema S, como Senac, Senai e Sebrae. Um exemplo recente é o curso técnico inédito para formação de mecânicos florestais, realizado em Bataguassu, que reuniu cerca de 25 alunos — incluindo mulheres — e reforça o compromisso com a inclusão e o desenvolvimento profissional na região”, informou a Bracell.
Campo Grande News