MS precisa de R$ 1 bi por ano para manter estradas

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Manter em condições transitáveis as estradas vicinais que cortam Mato Grosso do Sul exigiria investimentos anuais de R$ 1,09 bilhão, segundo levantamento da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) divulgado nesta terça-feira. O estudo dimensiona o tamanho do gargalo logístico que desafia o agronegócio sul-mato-grossense, responsável por boa parte das exportações e do Produto Interno Bruto (PIB) estadual.
Conforme o diagnóstico, são necessários R$ 806,83 milhões (73,99%) para adequar 57.225 quilômetros dos 71,1 mil quilômetros de estradas vicinais em condições precárias e outros R$ 283,59 milhões (26,01%) para manutenção anual.

As vias são essenciais para o escoamento da produção agropecuária em 8 das 11 microrregiões do Estado, consideradas prioritárias pela entidade: Dourados, Iguatemi, Campo Grande, Cassilândia, Nova Andradina, Três Lagoas, Alto Taquari e Bodoquena.

O levantamento, que foi elaborado em parceria com o Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da Esalq/USP (Esalq-LOG), é o primeiro diagnóstico nacional da malha vicinal brasileira. O estudo utilizou o Índice de Priorização de Estradas Vicinais (Ipev), ferramenta que combina fatores econômicos, sociais, ambientais e de infraestrutura para indicar onde os recursos devem ser aplicados primeiro.

“Precisamos mostrar a realidade das nossas estradas vicinais e cobrar ações concretas. O produtor rural não pode continuar arcando sozinho com os prejuízos causados pela falta de infraestrutura”, afirmou o presidente da CNA, João Martins, durante o lançamento do estudo. 
Ele destacou que os dados “servem como base para políticas públicas eficazes, direcionamento de investimentos e melhoria da qualidade de vida no campo”.

MICRORREGIÕES
A microrregião de Dourados aparece com o maior Ipev do Estado (0,986) e concentra a maior necessidade de investimento, tanto para adequação (R$ 181,46 milhões/ano) quanto para manutenção (R$ 63,62 milhões/ano). São 12.977 km de estradas vicinais, que exigem R$ 245,08 milhões anuais para ficarem em boas condições de tráfego.

O estudo destaca que a região “concentra a maior necessidade de investimento, tanto para as estradas terciárias [R$ 49,47 milhões] quanto para a totalidade da malha
[R$ 245,08 milhões]”. 

A área é uma das mais produtivas de Mato Grosso do Sul, com forte presença de soja e milho, além de bovinocultura, frangos, suínos e cana-de-açúcar. Na microrregião, Maracaju figura entre os 10 maiores produtores de grãos do País e Dourados tem um dos maiores efetivos de aves do Estado.

Na sequência, está a microrregião de Iguatemi, com Ipev de 0,943. A região necessita de R$ 132,07 milhões anuais, sendo R$ 97,7 milhões para adequações e R$ 34,38 milhões para manutenção dos 6.907 km de vias. O perfil produtivo é semelhante ao de Dourados, com destaque para lavouras, cereais e oleaginosas.

A capital de Mato Grosso do Sul aparece logo depois, com Ipev de 0,914 e uma malha de 9.140 km. Para manter as estradas em boas condições, seriam necessários R$ 128,4 milhões para adequações e R$ 45,08 milhões para manutenção anual, totalizando R$ 173,48 milhões. A produção na microrregião é diversificada, com destaque para bovinos, soja e milho, além de madeira, frangos e suínos, com Sidrolândia liderando o plantel estadual de aves.

Em Três Lagoas, o índice Ipev ficou em 0,908, exigindo R$ 176,04 milhões anuais, sendo R$ 130,14 milhões para adequações e R$ 45,9 milhões para manutenção dos 9.126 km de estradas vicinais. A região é um dos polos nacionais da silvicultura e da produção de celulose, reunindo os três maiores municípios produtores do setor no País.

No norte do Estado, a microrregião do Alto Taquari, na divisa com Mato Grosso, registra Ipev de 0,817 e demanda R$ 137,85 milhões em investimentos para assegurar o escoamento da produção de soja e milho, especialmente em São Gabriel do Oeste e Sonora.

Já Cassilândia, com índice Ipev de 0,777, precisa de
R$ 67,97 milhões/ano para manter 3.584 km de vias transitáveis. Nova Andradina, com Ipev de 0,723, necessita de R$ 74,25 milhões para adequar e manter seus 3.993 km de estradas rurais.
Bodoquena aparece no fim do ranking, com Ipev de 0,710 e R$ 83,68 milhões necessários para garantir a trafegabilidade de 4.487 km de rodovias vicinais, importantes para o escoamento de grãos e da pecuária.

FUNDERSUL
O valor calculado pela CNA para manter as estradas vicinais em condições adequadas é equivalente à arrecadação anual do Fundo de Desenvolvimento do Sistema Rodoviário de Mato Grosso do Sul (Fundersul), que gira em torno de R$ 1 bilhão, conforme dados da Secretaria de Estado de Fazenda.

Criado em 1999, o Fundersul tem sido uma das principais fontes de investimento em infraestrutura rodoviária no Estado, mas seus recursos são aplicados majoritariamente em rodovias estaduais e obras estruturantes, e não em estradas vicinais, que são de responsabilidade dos municípios.

O fundo chegou a arrecadar R$ 1,1 bilhão em 2023, e a expectativa para este ano é de que se mantenha no mesmo patamar. Parte do montante é utilizada em obras como pavimentação de trechos estaduais, pontes e recuperação de rodovias, o que reforça o alerta da CNA de que as estradas rurais ainda carecem de uma política própria de financiamento e gestão.

“Sem um olhar específico para as vicinais, continuaremos vendo o produtor enfrentando o barro na chuva e a poeira no tempo seco, sem garantia de acesso para transportar insumos e escoar a safra”, afirma um trecho do estudo.

A entidade defende que estados e municípios criem fundos complementares e convênios de manutenção para atender a malha rural, especialmente em áreas de expansão agrícola e pecuária.

GARGALO
O estudo da CNA reforça que os dados técnicos têm potencial para subsidiar prefeitos, parlamentares e gestores públicos na definição de prioridades e na captação de
recursos.

“O diagnóstico se propõe a ser um instrumento estratégico de planejamento. As informações e os indicadores aqui reunidos oferecem subsídios concretos para a formulação de políticas públicas e para a tomada de decisões por parte de gestores públicos em todas as esferas de governo”, descreve o relatório.
Para o presidente da CNA, o maior desafio é transformar o diagnóstico em política pública efetiva.

“O produtor rural tem enfrentado prejuízos diários porque não consegue escoar a produção em estradas que viram atoleiros no período de chuva. Não se trata apenas de um problema de logística, mas de competitividade e dignidade para quem vive e produz no campo”, finaliza Martins.

Correio do Estado