MS amplia fronteiras de exportação e aposta também na economia criativa

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Nem só de grãos e carnes vive o Mato Grosso do Sul. Quase cinco décadas após sua criação, o Estado diversificou de forma expressiva sua pauta de exportações e vem abrindo espaço em áreas antes impensadas. A carteira de exportações sul-mato-grossenses se tornou economicamente criativa.

Um exemplo dessa transformação é a Bella Pedra Cristal, empresa de mineração sediada em Campo Grande e comandada por Júnior Franco Roza. Reconhecida pela expertise em todas as fases do ciclo de exploração mineral, da prospecção à utilização responsável dos recursos, a empresa tem conquistado mercados internacionais com minerais extraídos em solo sul-mato-grossense.

“Cada pedra tem sua própria história e particularidade, por isso gosto de todas. É fascinante imaginar como essas formações naturais se originam. Por exemplo, a ametista. É incrível pensar que algo assim levou milhões de anos para se formar. Dentro dela, há uma beleza que a natureza guardou. Outra pedra interessante é o jaspe São Gabriel, que vem da nossa região. Ele apresenta várias tonalidades, não só o vermelho tradicional. Pode ter tons verdes, marrons e até rosados”, comenta Roza, que continua.

“Temos também a calcita, que vem da nossa mina, aqui em Bodoquena. Ela é única no mundo por causa das manchas geométricas, resultado da contaminação natural por ferro, alumínio e até ouro. Demos a ela o nome de Calcita Millennium, justamente por sua exclusividade. Tudo foi registrado oficialmente”, explica.

Segundo Roza, a calcita possui mais de mil utilidades: vai de insumo para ração animal à indústria de remédios, tintas, cimentos e outros produtos.

Roza conta ainda que o interesse pelo ramo nasceu ainda na infância, inspirado pelo avô, que já trabalhava com pedras na região de fronteira. “Eu trabalho com pedras desde o ano 2000. Sou nascido em Ponta Porã, mas criado em Campo Grande desde 1985. Sempre gostei das pedras, e foi assim que decidi seguir nesse caminho”, afirma.

O empresário destaca que o Estado é extremamente rico em potencial de mineração e ainda pouco explorado, tanto na geração de empregos quanto no fortalecimento da economia. “Conhecemos menos de 2% do nosso subsolo. Minas Gerais, que é referência nacional no setor de mineração, já tem mais de 70% do seu território mapeado”, afirma Júnior Roza.

A Bella Pedra atua com uma variedade de minerais, como quartzo, jaspe e calcita , esta última com minas em Bodoquena e Bela Vista. Segundo Roza, a calcita possui mais de mil utilidades: vai de insumo para ração animal à indústria de remédios, tintas, cimentos e outros produtos. “É cálcio puro. Nosso Estado é muito rico em minerais, mas a maioria ainda é explorada por empresas de fora”, observa.

A virada no negócio ocorreu com o apoio do Sebrae/MS, aliado à atuação estratégica do Governo do Estado, do setor produtivo e de empreendedores locais, além da participação em rodadas de negócios internacionais.

Foi a partir de 2023 que a empresa firmou contratos comerciais com parceiros no Japão, Portugal, Suíça e Dubai. “Participamos de um curso do Sebrae chamado Exporta Mais, que abriu nossa mente. Lá aprendemos os caminhos e o processo correto para exportar. As vendas para fora do Brasil cresceram muito e, até dentro do país, nossa presença comercial se fortaleceu”, avalia Roza.

Segundo consulta ao Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro (Sicab), Mato Grosso do Sul conta hoje com 6.690 artesãos ativos, número que mostra o potencial do Estado em unir tradição, criatividade e inovação para conquistar novos mercados.

A superintendente de Economia Criativa da Setesc (Secretaria de Estado de Turismo, Esporte e Cultura), Luciana Azambuja Roca, destacou que o setor criativo desempenha papel estratégico no desenvolvimento socioeconômico de Mato Grosso do Sul. Segundo ela, além de ser a principal fonte de renda de muitas famílias, a economia criativa tem grande potencial para exportar cultura e produtos locais, como artesanato, moda, música, literatura e audiovisual.

Segundo Luciana, o Estado está articulando uma parceria com territórios do Paraguai, Argentina e Chile, ao longo do Corredor Bioceânico, para ampliar as oportunidades geradas pelo setor. 

“Acreditamos que a economia criativa pode movimentar a Rota para além das questões alfandegárias e logísticas, criando novos negócios que valorizem nossa cultura regional e fortaleçam o intercâmbio cultural”, analisa.

Entre as ações em andamento, estão a implementação de uma política estadual de economia criativa, voltada para a qualificação profissional, o fomento ao turismo e o apoio aos pequenos negócios, como as feiras criativas. Esse formato, em expansão, democratiza o acesso à cultura, promove lazer em espaços públicos, gera renda e amplia a inclusão social.

Luciana adiantou ainda que, em breve, será apresentado o Panorama da Economia Criativa em Mato Grosso do Sul, levantamento iniciado no começo do ano para mapear os profissionais e empreendimentos do setor. O estudo fornecerá dados e indicadores que irão embasar novas políticas públicas

Do Pantanal para os desfiles internacionais de moda 

Zanir Furtado se inspirou no Pantanal para criar bolsas de luxo e acessórios de couro que hoje desfilam em passarelas internacionais. A empresária afirma que a marca nasceu com o propósito de transformar vidas e valorizar o potencial do município de Rio Negro, capacitando moradores locais para a produção de peças de luxo feitas com couro bovino, ferragens banhadas a ouro e acabamento artesanal.

A ideia surgiu em 2019, durante uma viagem a Brasília. “Eu moro em Brasília, mas nasci em Rio Negro. O projeto amadureceu e, em dezembro de 2020, em plena pandemia, a marca Zanir Furtado foi oficialmente lançada”,  conta a empresária.

Segundo Zanir, o processo começou com um ano de estudo de viabilidade e capacitação. “Fui fazer curso de design de bolsas, e minha professora só aceitou me ensinar se eu fizesse o Empretec. Ela dizia que moda não é glamour, é empreendedorismo”, relembra.

A empresária já atuava no setor da construção civil, mas foi no Empretec, programa do Sebrae, que descobriu “um potencial gigantesco” e fortaleceu as habilidades necessárias para empreender na área da moda.

“Se não fosse o Empretec, eu teria desistido. Aprendi a planejar, liderar e transformar ideias em resultados. E entendi que o meu propósito é gerar oportunidades e empoderar pessoas”, resume.

A marca – primeira no mundo inspirada e produzida no Pantanal – fabrica bolsas, cintos e acessórios desenhados pela própria Zanir e confeccionados por jovens e mulheres de Rio Negro. As peças seguem padrões de qualidade internacionais. “Fui estudar fora para entender os diferenciais do luxo e aplicar dentro do meu negócio”, explica.

Hoje, os produtos estão disponíveis na loja virtual e em showrooms de São Paulo, além da implantação em breve da primeira loja física em Campo Grande, na Rua Euclides da Cunha, endereço nobre na capital sul-mato-grossense. “Sabíamos que, para uma indústria do luxo se sustentar em Mato Grosso do Sul, especialmente no interior, precisaríamos mirar o mundo”, diz.

Em 2021, com apoio do Sebrae e do Centro Internacional de Negócios, Zanir iniciou o processo formal de internacionalização. A marca já exporta para pontos específicos e tem representantes no exterior. “Esse é o momento da expansão. Trabalhamos a base, o padrão de qualidade, e agora estamos preparados para dar o salto de volume com segurança”, afirma.

O reconhecimento também veio de forma simbólica e marcante. A marca foi escolhida pelo governador Eduardo Riedel e pela primeira-dama, Mônica Riedel, para presentear a princesa Kako, do Japão, durante visita oficial.

“Foi a coroação de um trabalho feito com amor. Saber que ela quebrou o protocolo e usou a peça foi uma validação incrível. Hoje, nossa bolsa faz parte do acervo real japonês”, conta, emocionada.

A marca já teve destaque em veículos como Forbes, Pequenas Empresas & Grandes Negócios e Exame, que a definiu como “a professora que transformou o couro pantaneiro em sinônimo de luxo”.