
Dênes de Azevedo
A assinatura de um acordo entre Paraguai e Mato Grosso do Sul para a circulação de caminhões ‘bitrem’ na ruta 5, que liga Pedro Juan Caballero ao Porto de Concepción, encurta o caminho da região da Grande Dourados para os portos. Com isso, a distância de Dourados a uma hidrovia cai de 900 quilômetros (Porto de Paranaguá) ou 1.000 quilômetros (Porto de Santos) para 315 quilômetros, pelo Porto de Concepción, no Rio Paraguai.
O acordo foi firmado em março pelo governador Reinaldo Azambuja e os ministros paraguaios Gustavo Leite (Indústria e Comércio) e Ramón Jiménez (Obras Públicas e Comunicações), com a presença do embaixador brasileiro no Paraguai, José Felício.
O acordo regulamenta a operação dentro dos tratados que já existem entre Brasil e Paraguai há muitos anos. No caso, o uso do Porto de Concepción foi uma contrapartida do Paraguai em 1957 (Lei 329) ao governo brasileiro por ter assinado o tratado de 1942, no governo de Getulio Vargas, garantindo ao país um porto livre no Brasil, no caso Paranaguá. Esse tratado foi regulamentado por Juscelino Kubitschek (Lei 42.920) em 1962.
Com o trânsito livre entre a Grande Dourados, a maior região produtora de grãos de Mato Grosso do Sul, e Concepción a produção não industrializada poderá ser escoada pelo Rio Paraguai para Assunción e chegar aos portos marítimos de Buenos Aires e Montevideo e de lá para o mundo. O porto uruguaio de Nueva Palmira pode ser usado para fazer o translado dos produtos das barcaças para os navios. Isso já é feito com a produção de Cáceres (MT) e da Bolívia.
A partir da implantação do sistema de operação, ou seja a gestão comercial para que se realize as exportações, Dourados e região melhoram a sua logística. Com a redução do custo do transporte melhora a remuneração ao produtor e possibilita abertura de novas áreas de produção e também mais investimento em tecnologia para aumentar a produtividade.
Dourados espera desde a década de 1940 uma ferrovia a partir de Panorama (SP) para melhorar a sua condição logística de escoamento da produção. O governo federal realizou estudos e pré-aprovou essa ferrovia recentemente, mas em 2014, numa manobra atendendo lobby da indústria de celulose o traçado foi alterado para Três Lagoas, ficando mais distante de Dourados. Com a crise econômica no país e a crise política qualquer projeto de logística de grande porte está adiado por 10 anos, na avaliação dos economistas.
A viagem de um caminhão ‘bitrem’ entre Dourados e Concepcíon deve durar em torno de 4 horas. Já a viagem entre a cidade e o Porto de Paranaguá demora praticamente dois dias por conta da travessia da serra e do volume do trânsito nas rodovias do Paraná.
Não são apenas grãos que serão exportados por Concepción, mas também açúcar para o Paraguai, Argentina e Uruguai, através do Rio Paraguai e Paraná. O Chile também é um país importador de açúcar e poderia receber o produtor por ferrovia a partir do desembarque nos portos da Argentina.
No caminho inverso pode vir o trigo da Argentina e produtos industrializados, como o vinho, por exemplo.
“Estamos fazendo um esforço grande para que Mato Grosso do Sul seja competitivo na área da logística. É necessário realizar um esforço em conjunto”, afirma Jaime Verruck, secretário da Semade (Secretária de Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico).