Dourados ganha laboratório de pesquisa com agrotóxicos

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Autoridades na assinatura do convênio para a construção do laboratório. (Foto: Divulgação).

Um acordo de cooperação técnica e financeira que possibilitará a execução do projeto monitoramento dos resíduos de agrotóxicos em águas superficiais de Mato Grosso do Sul foi assinado na manhã de terça-feira, 13, entre Embrapa Agropecuária Oeste, Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, Ministério Público Estadual e Prefeitura de Dourados, por meio do Instituto de Meio Ambiente (Imam). O ato foi no auditório da Embrapa.

Inicialmente o laboratório vai monitorar as bacias hidrográficas dos rios Ivinhema, Dourados e Amambai. Para isso, serão viabilizados investimentos totais da ordem de R$ 1,13 milhão para a construção de laboratório com 361 metros quadrados e aquisição de equipamentos de análises laboratoriais. A expectativa é que em 2017 comecem as obras. A prefeitura, através do Imam, vai participar com um aporte de R$ 606.027,82 para construir o laboratório. O restante será divido entre as outras instituições que vão adquirir os equipamentos.

De acordo com o promotor Amilcar Araujo Carneiro Junior, do Ministério Público Estadual, o projeto possui uma relevância grandiosa. “Existe um questionamento generalizado sobre a contaminação ou não das águas superficiais por resíduos de agrotóxicos no Estado. A partir desse diagnóstico, acreditamos que algumas dúvidas poderão ser dissipadas, beneficiando tanto o município quanto o Estado”, disse.

O procurador do Trabalho em Dourados, Jefferson Pereira, ressaltou a importância dessa pesquisa para a sociedade. “Os recursos que estão sendo utilizados para essa parceria, por parte do MPT/MS, são oriundos de um acordo judicial de ação civil pública na Vara do Trabalho de Naviraí. Foi o trabalho do Ministério Público, juntamente com o Poder Judiciário, que possibilitou a captação desses recursos que foram aportados no projeto”, disse Pereira.

Para o procurador do MPF em Dourados, Marco Antonio Delfino de Almeida, disse que a vantagem do laboratório será a de permitir a realização local desse monitoramento. “Atualmente, as amostras são enviadas para análise no Laboratório Evandro Chagas, em Belém, no Pará. A distância impõe limitações nas análises, tanto na periodicidade [de envio] das amostras quanto no quantitativo de agrotóxicos abrangido”, informa.

O diretor do Imam, Upiran Jorge Gonçalves da Silva, destacou que os recursos da parceria são oriundos exclusivamente de fiscalização ambiental, das compensações ambientais. “Esse laboratório terá uma importância científica e servirá como referência nacional. Com essa parceria, ganha a sociedade e a comunidade científica de Dourados”, disse ele.

“A convergência de propósitos das instituições públicas parceiras para geração de dados, de conhecimentos, que possam eventualmente subsidiar políticas públicas é muito importante. Nesse ato, tivemos a integração entre poderes municipais, estaduais e federais em benefício da sociedade”, comemora o Chefe Geral da Embrapa Agropecuária Oeste, Guilherme Lafourcade Asmus.

O prefeito de Dourados, Murilo Zauith (PSB) agradeceu a parceria, que segundo ele, vai resultar em qualidade de vida para a população de Mato Grosso do Sul. “Tenho maior respeito por todos os pesquisadores e a todos vocês que assinaram o termo de cooperação e assim continuarmos trabalhando como homens públicos que têm responsabilidade com à população”, agradeceu.

 

O PROJETO

O pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Rômulo Penna Scorza Júnior, coordenador técnico do projeto, destacou que no Brasil, nos últimos 20 anos, houve um aumento expressivo na colheita de grãos da ordem de 151% com um crescimento de apenas 58% da área plantada. “Esse aumento da produtividade média da culturas de grãos foi possível devido ao uso de tecnologias agrícolas. E o uso de agrotóxicos nas lavouras é uma dessas. Infelizmente, essa tecnologia apresenta alguns riscos associados ao seu uso, assim como qualquer outra tecnologia. Risco é a associação entre perigo e exposição, ou seja, é preciso ser exposto ao produto e que a mesma cause algum perigo”, explica ele.

Há alguns anos, Scorza Junior pesquisa o comportamento ambiental dos agrotóxicos e explica que “após serem aplicados nas lavouras, chegando ao solo e as plantas, eles passam processos que podem transportar esses produtos. Esse transporte pode ocorrer por meio da lixiviação (pode contaminar águas subterrâneas), por meio de escorrimento superficial (pode contaminar água superficiais) e volatilização (pode contaminar a atmosfera)”. Ele salienta ainda que as pesquisas buscaram até agora responder perguntas como: quanto tempo o agrotóxico permanece no solo, qual o risco de escorrimento superficial, qual o valor de meia vida desses produtos, entre outros questionamentos. “Agora essa parceria nos permitirá avançar nas pesquisas, pois com esse novo laboratório poderemos monitorar a possível ocorrência desses produtos em águas superficiais para consumo humano e conservação da biodiversidade”, comemora o pesquisador da Embrapa.

“Existe uma urgente necessidade de obter informações sobre a possível existência de agrotóxicos nas águas. Sabemos que boa parte da água que consumimos é de captação superficial. Os índices de qualidade das águas são monitorados. Mas, temos demandas estaduais de respostas sobre a possibilidade de resíduos de agrotóxicos nas mesmas e essa parceria beneficia a sociedade”.