Calor gera replantio de 107 mil hectares de soja em MS

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As altas temperaturas registradas no segundo semestre já provocaram prejuízos à produção agrícola do Estado. Segundo a Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS), como consequência disso, cerca de 107 mil hectares precisaram ser replantados.

A Aprosoja-MS destaca ao Correio do Estado que as altas temperaturas e a escassez de chuva no início do ciclo da safra de soja 2023/2024 provocou atraso na operação de plantio.

“O deficit hídrico provocou replantio em algumas regiões, totalizando 2,51% da área total estimada, equivalente a 107 mil hectares. A maior parte ocorreu na região oeste, com aproximadamente 47,5 mil hectares, seguido pelas regiões centro com 25,1 mil hectares, nordeste com 20,5 mil hectares, norte com 11,4 mil hectares e sul com 2,5 mil hectares”, detalha a equipe técnica da associação.

Staney Barbosa Melo, economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho (SRCG), analisa os episódios de calor extremo como prejudiciais, pontuando o forte impacto no custo da produção, o que por consequência resulta em prejuízos.

“Tivemos um ano de preços baixos e pouca margem de lucro para o produtor rural. Agora, na reta final, os preços agropecuários, em especial o da carne, do milho e da soja, estão começando a ganhar fôlego, mais precisamente pela chegada das festividades de fim de ano. Porém, pelas notícias das ondas de calor, há a possibilidade de quebra na produtividade da safra que ainda está nos campos”, pontua.

Para Melo, o momento atual é crítico, uma vez que o enchimento dos grãos coincide com o período de calor intenso. “Esse período de seca no centro-norte do País pode prejudicar muito a safra que está nos campos. Em Mato Grosso do Sul, para além das chuvas irregulares em algumas regiões”, avalia.

O economista ressalta que o fim do ano ainda reservou uma infeliz surpresa aos produtores da oleaginosa: o relato de um caso de ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi) no Estado. 

“A doença pode reduzir em até 90% a produtividade de uma lavoura, além de aumentar os custos com controle sanitário e aplicação de fungicidas”, frisa Melo.

Conforme a Aprosoja-MS, até o momento, MS tem 98% de área plantada, porcentual que corresponde a 4,1 milhões de hectares. “O desenvolvimento do plantio apresenta atraso de duas semanas em relação ao mesmo período do ano anterior, no dia 15 de dezembro”, acrescenta a instituição por meio de nota.

ONDA DE CALOR

Pesquisador em agrometeorologia da Embrapa Agropecuária Oeste, Éder Comunello explica que uma onda de calor é uma época extremamente quente causada pela ação de massas de ar quente, caracterizada pelo aumento anormal das temperaturas por um período prolongado de tempo em uma determinada localidade.

“Existem diversos critérios que podem ser usados para definir uma onda de calor, sendo bastante comum no Brasil considerá-la quando temos três dias ou mais com temperaturas com pelo menos 5°C acima da média histórica do mês em curso. Esses eventos podem ocorrer em todos os meses do ano, mas são mais percebidos e impactantes nos meses de primavera e principalmente no verão”, relata. Comunello salienta que as mudanças climáticas estão aumentando a frequência e a intensidade das ondas de calor em todo o mundo e que quando combinadas à ação do El Niño, tal como na condição atual, esse quadro é muito mais acentuado.

No País, as ondas de calor devem se tornar ainda mais frequentes e intensas nas próximas décadas.

“Em Mato Grosso do Sul, as ondas de calor são cada vez mais frequentes e intensas, também motivadas pelas mudanças climáticas. Particularmente neste ano, foram diversos eventos ao longo dos meses, de modo que estamos no nono evento neste momento”, aponta.

As ondas de calor podem causar impactos significativos para as atividades agrícolas e para a pecuária, com destaque para a soja, que está em uma fase crítica (florescimento/enchimento de grãos). “Na agricultura, [as ondas de calor] causam danos às plantações, reduzindo a produtividade e a qualidade dos produtos. As culturas são mais suscetíveis ao estresse térmico quando estão em estágios de desenvolvimento mais sensíveis, como a floração e a frutificação”, pontua o pesquisador.

Para a pecuária, Comunello afirma que as ondas de calor podem causar estresse térmico aos animais, reduzindo o consumo de alimentos e água, a produção de leite e carne e aumentando a mortalidade.