MS vive “virada econômica” com agro diversificado e PIB acima da média

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Mato Grosso do Sul chega aos 48 anos de criação como uma das economias mais pujantes do País, consolidando um novo ciclo de desenvolvimento ancorado no agronegócio diversificado, na industrialização e em políticas públicas voltadas à sustentabilidade. O Produto Interno Bruto (PIB) estadual tem crescido acima da média nacional nos últimos quatro anos. 

A projeção da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc) é de que o PIB do Estado tenha crescido 4,6% em 2024, alcançando R$ 190 bilhões, o terceiro maior avanço entre todos os estados e as projeções apontam nova alta de 5,5% para este ano, desempenho superior à média nacional.

A transformação, avaliam os especialistas, não é resultado de um único fator, mas de uma combinação de ambiente de negócios favorável, investimentos estruturais e diversificação produtiva que tornaram o Estado referência em competitividade. 

“O que fez realmente o Estado se destacar, o crescimento maior que os outros estados, maior que a média nacional, foi a mudança do ambiente de negócios”, explica o doutor em Economia Michel Constantino.

Segundo ele, a rápida implementação da Lei da Liberdade Econômica, em 2019, foi decisiva.

“Mato Grosso do Sul foi um dos mais rápidos a implementar. Essa lei melhora o ambiente de negócio, reduz a burocracia e cria uma legislação mais atrativa para investimentos”, afirma.

Constantino destaca ainda que a presença de grandes empresas impulsiona o crescimento de toda a cadeia produtiva.

“Quando uma grande empresa vem, como a Suzano, por exemplo, ela atrai pequenos e médios investimentos. Você tem hotéis, turismo, logística, alimentação e vários serviços para atender essas demandas. Isso aumenta emprego, renda e arrecadação e muda o cenário produtivo dos municípios”.

INDUSTRIALIZAÇÃO
O processo de industrialização recente consolidou uma nova estrutura econômica, segundo o doutor em Economia Daniel Frainer.

“O crescimento, acima da média, do Estado está calcado em um processo de industrialização recente, fruto do adensamento nas principais cadeias produtivas do agronegócio, como o setor sucroenergético e a cadeia da celulose”, explica.

Levantamento feito pelo Correio do Estado, com informações de órgãos governamentais, associações e federações de setores fortes no Estado e cooperativas de produtores, aponta investimentos confirmados de R$ 81,5 bilhões do setor privado para os próximos anos. Os principais investimentos são na celulose e nos biocombustíveis. 

Essa transformação, acrescenta, impulsionou também os setores de comércio e serviços, responsáveis pela maior parte dos empregos.

“Os fatores determinantes do crescimento recente seriam aliar novos investimentos em setores emergentes à modernização dos já existentes, gerando adensamento produtivo e maior absorção de mão de obra”, diz Frainer.

O economista, no entanto, alerta para o risco de desequilíbrios regionais.

“É preciso planejar as atividades econômicas para não criar uma economia dual, em que o leste concentra investimentos e o oeste permanece dependente do poder público. O desafio é combinar crescimento com sustentabilidade ambiental e equilíbrio territorial”, considera.

O mestre em Economia Eugênio Pavão define Mato Grosso do Sul como uma “ilha de prosperidade” no cenário nacional.

“A consolidação da economia se deu principalmente pelo fator terra, que atraiu grandes capitais interessados em investir no Estado”, analisa. Ele lembra que as cadeias da soja, carne e celulose se tornaram pilares da economia e atraíram indústrias exportadoras.

Mesmo diante de crises internacionais, como a guerra da Ucrânia, conflitos no Oriente Médio e as mudanças climáticas, o Estado manteve crescimento constante.

“MS conseguiu passar ao largo desses fatos, sofrendo menores consequências do que estados mais industrializados do Sul e Sudeste”, avalia Pavão.

A expansão industrial, no entanto, trouxe novos desafios.

“Os municípios que receberam grandes plantas industriais, como Ribas do Rio Pardo, Inocência e Três Lagoas, enfrentam pressão por infraestrutura, moradia e serviços públicos. O aumento da densidade demográfica e o encarecimento do solo urbano são reflexos diretos dessa nova fase de prosperidade”, observa.

Para Pavão, a sustentabilidade é o caminho para equilibrar crescimento e preservação.

“A política de baixa emissão de carbono se encaixa perfeitamente nesse momento de transição. A crise climática mostra que, sem cuidados ambientais, corremos o risco de esgotar fatores produtivos”, ressalta.

DIVERSIFICAÇÃO
A nova fase do agronegócio de MS é marcada pela diversificação das cadeias produtivas. O Estado se consolida como o segundo maior produtor de amendoim do Brasil, com 100 mil toneladas colhidas na safra 2024/2025. A cultura, antes discreta, encontrou espaço na rotação com soja e milho, com ganhos de produtividade e sustentabilidade.

As cadeias de proteína animal também se expandem. Com 121 mil matrizes instaladas, a suinocultura deve atingir 3,8 milhões de abates neste ano, mantendo o Estado entre os cinco maiores produtores do País. Na avicultura, foram 175,9 milhões de frangos abatidos em 2024, consolidando Mato Grosso do Sul na sétima posição nacional.

“Mato Grosso do Sul vive um momento de virada”, resume o presidente do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho, Eduardo Monreal.

“Se, por muitos anos, fomos sinônimo apenas de soja, milho e gado, agora as experiências em amendoim, suínos, aves e até em pomares de laranja mostram que estamos construindo uma nova base para o futuro. Diversificação não é apenas uma tendência, é o caminho para garantir estabilidade, valor agregado e prosperidade para quem vive no campo”, considera Monreal.

SUSTENTABILIDADE
A agenda da sustentabilidade e do carbono neutro se tornou uma das principais vitrines do Estado, segundo Michel Constantino.

“O Estado sai na frente, propõe políticas e ações ligadas ao carbono neutro. Isso valoriza os ativos locais e atrai cada vez mais investimentos. Temos indústrias que já usam energia solar, biomassa e tecnologias de baixo consumo de água”, afirma.

Apesar dos avanços, Constantino aponta que o principal desafio para os próximos anos será a adaptação ao novo sistema tributário.

“A reforma tributária muda o patamar de atração de investimentos, porque acaba com benefícios fiscais. O Estado vai precisar manter sua atratividade com base em infraestrutura, inovação e sustentabilidade”, conclui.

Com a menor taxa de desemprego da Região Centro-Oeste (3,7%) e a maior taxa de investimento público do País (15,3%), Mato Grosso do Sul mantém uma trajetória de crescimento sólido e equilibrado.

Correio do Estado