Concorrente dos EUA, agro de MS busca Ásia para se blindar de tarifaço

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O agronegócio de Mato Grosso do Sul, setor protagonista das exportações locais, aposta no continente asiático não apenas para mitigar os efeitos do tarifaço imposto pela gestão de Donald Trump nos Estados Unidos, mas também para superar os norte-americanos em produtos com os quais concorre diretamente, como, por exemplo, nas exportações de soja e de carne bovina.

No caso da soja, o Brasil pode ser impactado caso a China aumente as importações do grão norte-americano, em meio às negociações que as duas maiores economias do mundo realizam para chegar a um acordo comercial.

No domingo, Donald Trump disse esperar que a China aumente massivamente suas compras de soja americana. “A China está preocupada com sua escassez de soja”, escreveu Trump na rede Truth Social, ontem.

“Espero que a China rapidamente quadruplique suas encomendas de soja. Isso também é uma forma de reduzir substancialmente o deficit comercial da China com os EUA”, disse o chefe de Estado norte-americano.

A declaração foi feita horas antes de ele adiar o desfecho da negociação comercial que mantém com a China.
O Brasil é o maior vendedor de soja para a China, o maior comprador mundial. Os Estados Unidos são o segundo maior fornecedor da oleaginosa para o gigante asiático. Os analistas, porém, acreditam que um aumento nas compras de soja dos EUA pela China não influenciará o mercado brasileiro.

Por outro lado, Mato Grosso do Sul, estado que tem a carne bovina como o terceiro item de sua pauta de exportações – atrás apenas da soja e da celulose –, busca nos países asiáticos abrir mercado para seu produto.

Taxado em 25% pela administração de Donald Trump, o Japão, país considerado exigente em quesitos sanitários e conservador nas negociações, ainda não compra carne bovina brasileira (grande parte da carne bovina consumida no Japão vem dos Estados Unidos), mas agora pode passar a comprar.

É nessa possibilidade que o governador Eduardo Riedel (PSDB), atualmente em viagem ao Japão, está de olho.

“Exportamos no ano passado US$ 120 milhões para o Japão, sendo US$ 60 milhões no setor da avicultura, e também temos experimentado um avanço da suinocultura. Agora estamos aqui discutindo a abertura do mercado para nossa pecuária de corte”, disse Eduardo Riedel em suas redes sociais na tarde desta segunda-feira.

O Japão já negocia abrir seu mercado à carne brasileira, mas a negociação está restrita aos estados da Região Sul – Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul –, áreas livres de febre aftosa sem vacinação há muito mais tempo que o restante do Brasil, que só recebeu esse status em maio deste ano.

Apesar de concorrerem no mercado japonês, Brasil e Estados Unidos eram grandes parceiros comerciais, quando se trata de carne bovina, até antes do tarifaço de Trump, que entrou em vigor na quarta-feira. Desde então, as vendas de carne brasileira aos Estados Unidos são taxadas em 50%.

Soja
O doutor em Economia Michel Constantino, que também é colunista do Correio do Estado, analisa os movimentos do agro em Mato Grosso do Sul em meio à guerra tarifária global.

Ele afirma que Trump, ao usar o termo “quadruplicar”, recorre mais a uma estratégia retórica na negociação do que a algo que possa ocorrer de fato.

“Para quadruplicar as vendas, a China teria de comprar toda a soja que os Estados Unidos produzem”, explicou. Os EUA, no curto e médio prazo, não conseguem quadruplicar sua oferta de soja para a China.

Ele também afirma que o Brasil – o que, claro, inclui o agro de Mato Grosso do Sul – está muito bem posicionado nessa questão. “Nossa produtividade é bem maior que a norte-americana”, informou.

O crescimento da demanda na China, que tem aumentado pelo menos 5% ao ano, impulsiona naturalmente a procura pela oleaginosa, abrindo espaço para que Brasil e Estados Unidos exportem para lá.

Este ano, em meio às tensões comerciais entre Washington e Pequim, a China ainda não comprou nenhum grão norte-americano para o quarto trimestre, alimentando preocupações com a aproximação da temporada de exportação da safra dos EUA.

O setor de soja dos EUA tem buscado compradores alternativos, mas nenhum outro país se equipara à escala da China. No ano passado, a China importou 22,13 milhões de toneladas de soja dos EUA e 74,65 milhões de toneladas do Brasil.

Carne
No que diz respeito à carne bovina, para Michel Constantino, é importante que Mato Grosso do Sul busque alternativas.

“A carne que é exportada a partir de Campo Grande, por exemplo, é de alta qualidade. Precisamos, e é possível, encontrar países que paguem mais caro pelo produto”, explicou o doutor em Economia.

Segundo ele, o Japão paga bem pelo produto, mas não é um mercado muito grande, sendo necessário buscar outros compradores.

“É muito boa a iniciativa do governador Eduardo Riedel, sobretudo porque mostra que o Estado está buscando alternativas de mercado para sairmos do binômio China-Estados Unidos, nossos maiores parceiros comerciais”.

Correio do Estado