
As perdas na safrinha de milho 2024/2025 em Mato Grosso do Sul podem chegar a R$ 1,802 bilhão, segundo levantamento com base em dados do Sistema de Informação Geográfica do Agronegócio (Siga MS). A cifra é resultado direto das condições climáticas adversas e do atraso na colheita, que comprometeram parte considerável das lavouras do Estado.
Os dados oficiais do boletim Casa Rural, da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS) e a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Sistema Famasul), apontam que 459.896 hectares de milho 2ª safra estão classificados como “regulares” ou “ruins” no Estado.
O que significa que essas áreas apresentam problemas como desfolhamento excessivo, amarelamento precoce, falhas no estande de plantas e alta incidência de pragas ou doenças, fatores que impactam negativamente a produtividade. Essa área equivale a mais de um quinto do total cultivado nesta safra, que chegou a 2,103 milhões de ha.
Considerando a produtividade média estimada de 80 sacas por ha, essa área representa a produção potencial de 36.791.680 sacas. Com base na cotação do milho no mercado físico estadual, que era cotado a R$ 49 por saca, o prejuízo pode chegar a R$ 1,802 bilhão.
A conta é feita multiplicando-se os 459.896 ha pelas 80 sacas por ha, e depois pelo preço médio da saca. Embora o preço do milho apresente variações regionais, a média estadual registrada entre os dias 28 de julho e 4 de agosto foi de R$ 48,63, com municípios como Dourados e Maracaju ultrapassando a casa dos R$ 50.
O valor considerado na estimativa, portanto, representa uma média arredondada dentro do que é praticado no Estado.
O boletim destaca que essa perda ocorre em um ano que, a princípio, tinha boas perspectivas de produtividade. A estimativa da produção estadual da 2ª safra de milho é de 10,199 milhões de toneladas, com produtividade média de 80,8 sacas por ha, o que representaria um aumento de 20,6% em relação ao ciclo anterior.
No entanto, os danos causados por geadas, ventos e estiagens em determinadas regiões colocam esse crescimento em xeque, já que as perdas estão concentradas justamente em áreas com maior peso na produção estadual, como as regiões central e sul.
Além dos problemas climáticos, outro fator que acende o sinal de alerta é o atraso na colheita. De acordo com o boletim Casa Rural, até o dia 1º de agosto, apenas 42,7% da área de milho havia sido colhida no Estado. Na mesma data do ano passado, esse porcentual era de 77,9%, o que representa um atraso de 35,2 pontos porcentuais em relação à safra anterior.
A média histórica também está acima do índice atual, evidenciando que a colheita este ano está significativamente mais lenta.
A situação é mais crítica na região norte, onde a colheita está em apenas 29,9%. No centro de MS, o índice é de 37,9%, enquanto na região sul, a mais adiantada, chega a 46,2%. Essa lentidão expõe as lavouras aos riscos de perdas adicionais, como geadas tardias, excesso de chuvas ou ventanias, que podem ocorrer em agosto, mês considerado o pico da colheita da safrinha.
“Nesta safra, houve um escalonamento maior no plantio em função do deficit hídrico no início do ciclo e, com isso, o desenvolvimento das lavouras ficou desuniforme. Além disso, a ocorrência de chuvas na fase final atrasou o início da colheita em algumas regiões”, explicou o assessor técnico da Aprosoja-MS, Flávio Aguena.
ADVERSIDADES
As adversidades enfrentadas nesta safra já haviam sido antecipadas por produtores e técnicos. Conforme adiantado pelo Correio do Estado em maio, problemas atingem quase 70% da produção de milho na região sul de Mato Grosso do Sul, considerada uma das principais áreas produtoras do grão no Estado.
A colheita lenta, aliada ao alto custo de produção e à queda de rentabilidade, tem feito com que os produtores revejam suas estratégias. A segunda safra de milho ocupa atualmente 46% da área destinada à soja no Estado, índice significativamente menor do que os 75% registrados em anos anteriores. Isso demonstra que a cultura tem perdido força frente ao avanço de outras opções, como sorgo e braquiária, que oferecem menor risco climático e menor custo de produção.
Ainda de acordo com dados da Aprosoja-MS, no fim de julho, ventanias intensas afetaram principalmente o centro e o sul do Estado, provocando o tombamento de cerca de 8 mil ha de lavouras de milho, com perdas estimadas entre 20% a 40% da produção. Os municípios mais atingidos foram Maracaju, Aral Moreira, Sete Quedas e Itaporã.
“As chuvas no fim do ciclo do milho safrinha têm dificultado a secagem natural dos grãos, o que está atrasando a colheita. Colher o milho com muita umidade aumenta os custos, porque é preciso secá-lo antes de armazenar (abaixo de 14% de umidade) para manter a qualidade dos grãos. Por outro lado, deixar o milho no campo por mais tempo também é arriscado, pois a produção fica exposta às intempéries climáticas”, disse Aguena.
“O produtor fica em uma situação complicada: ou colhe mais cedo e gasta mais com secagem, ou espera e corre o risco de perder parte da produção por causa do clima. O ideal é acompanhar a previsão do tempo e a umidade dos grãos para tomar a melhor decisão possível”, finalizou o assessor técnico da Aprosoja-MS.
A meteorologia indica tempo com sol e variação de nebulosidade e não se descarta a possibilidade de chuvas e tempestades isoladas.
Para esta safra, a produtividade média esperada é de 80,8 sacas por ha, com produção total estimada em 10,2 milhões de toneladas – um crescimento de 20,6% no volume em relação à safra anterior.
Correio do Estado