
Com a suspensão das tratativas para a venda da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN3), o projeto de tornar Mato Grosso do Sul produtor de fertilizantes ficou mais uma vez na promessa. O governo do Estado afirma que quer concluir a venda da fábrica ainda este ano.
E para isso tem pressionado a Petrobras a reabrir o processo de venda.
O titular da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, explica que o Estado já acionou a Petrobras, detentora do conglomerado, para que faça a reabertura das negociações.
“A Petrobras, com o comunicado, ela encerrou o processo de venda. E agora ela precisa reabrir, então nós já estamos discutindo um cronograma de reabertura. E tem de fazer a mesma coisa, anunciar para o mercado, ver quem está interessado, etc. A minha preocupação e do governador é que queremos agilidade da Petrobras, tanto para reabrir quanto para terminar [o processo de venda]”.
“Nós acreditamos que ainda é possível terminar neste ano, se assim ela desejar. Já fizemos o pedido à Petrobras que se reinicie imediatamente o processo para que até o fim do ano seja concluído. Porque depois quem for construir vai demorar praticamente 1,5 a dois anos para essa fábrica entrar em operação”, afirmou Verruck ao Correio do Estado.
NOVOS INTERESSADOS
Ainda de acordo com o secretário, o governador já recebeu dois grupos interessados em assumir o empreendimento. “Nós tivemos dois grupos que procuraram o governo do Estado, fizeram reunião comigo e com o governador apresentando o interesse em continuar a UFN3. Um deles é a Unigel”, confirma Verruck.
A Unigel é uma empresa petroquímica que já demonstrou publicamente o interesse na fábrica de Três Lagoas. O grupo anunciou recentemente que está investindo R$ 600 milhões no País para ampliar a produção de fertilizantes e sua participação no mercado.
Do montante, R$ 500 milhões vão para uma nova planta de ácido sulfúrico em Camaçari (BA) e outros R$ 50 milhões a R$ 100 milhões serão destinados à reativação da unidade de sulfato de amônio em Laranjeiras (SE), arrendada da Petrobras.
Ambos os projetos devem entrar em operação até o segundo trimestre de 2023, disse ao Estadão Conteúdo o CEO da Unigel, Roberto Noronha.
A meta da Unigel é ter no agro um terço do seu faturamento (de 26% em 2021). “Há grande espaço para o Brasil reduzir a dependência de adubos”, disse Noronha.
Verruck ainda frisa que, independentemente do comprador, ele precisará estar alinhado com o interesse do Estado em produzir fertilizantes, e não apenas misturar os produtos.
“Deixamos muito claro que não pode acontecer o que a Acron propôs. Só vamos receber grupos que tenham interesse em terminar a fábrica, essa é uma posição de governo. Só daremos incentivos fiscais ao grupo que implantar a fábrica”.
“A Acron inicialmente veio para ser misturadora e fábrica, mas quando apresentou o plano de negócios era somente a misturadora. Fizemos outras reuniões para que eles reapresentassem o plano de negócios, eles não refizeram e daí o motivo do indeferimento desse incentivo fiscal”, finaliza.
ESTACA ZERO
No dia 28 de abril, a Petrobras anunciou em comunicado ao mercado que a transação de venda da UFN3 para o grupo russo Acron não foi concluída.
Conforme adiantado pelo Correio do Estado na edição publicada em 21 de fevereiro de 2022, o plano do grupo era “rebaixar” a unidade a uma misturadora e não manter o projeto original de produzir fertilizantes.
A justificativa da estatal é de que o fim das tratativas levou em consideração “que o plano de negócios proposto pelo potencial comprador, em substituição ao projeto original, impossibilitou determinadas aprovações governamentais que eram necessárias para a continuidade da transação”.
A companhia ainda informou no comunicado a intenção de abrir um novo processo para vender a fábrica em junho de 2022, segundo a Agência Brasil.
“A companhia está realizando os trâmites internos para encerramento do atual processo de venda e lançamento de um novo tão logo possível”, informou em nota a estatal.
HISTÓRICO
A fábrica localizada em Três Lagoas começou a ser construída em 2011. A unidade integrava um consórcio composto por Galvão Engenharia, Sinopec (estatal chinesa) e a Petrobras. Quando foi lançada, a planta estava orçada em R$ 3,9 bilhões.
Os responsáveis pela Galvão foram envolvidos em denúncias de corrupção durante a Operação Lava Jato, e com isso as obras foram paralisadas. A Petrobras absorveu todo o empreendimento desde então.
Quando as obras foram paralisadas, em dezembro de 2014, a estrutura da indústria estava 81% concluída.
O processo de venda da indústria teve início em 2018, com a Araucária Nitrogenados (Ansa), fábrica localizada na Região Metropolitana de Curitiba (PR). A comercialização em conjunto inviabilizou a concretização do negócio.
Em meados de 2019, a gigante russa de fertilizantes, Acron, havia fechado acordo para a compra da empresa. O principal motivo para que o contrato não fosse firmado na época foi a crise boliviana que culminou na queda do ex-presidente Evo Morales.
Já em fevereiro de 2020, a Petrobras lançou nova oportunidade de venda da UFN3. Dessa vez, a estatal ofereceu ao mercado a unidade de forma individual.
As tratativas só foram retomadas no início deste ano com o mesmo grupo russo.
A unidade foi projetada para consumir diariamente 2,3 milhões de metros cúbicos de gás natural para fazer a separação e transformar em 3.600 toneladas de ureia e outras 2.200 toneladas de amônia por dia.
O empreendimento passou a ser estratégico para ajudar a suprir a demanda por fertilizantes no País e principalmente para trazer desenvolvimento para o Estado.